No interior do município de Treviso, no Sul de Santa Catarina, uma área é exemplo de que o trabalho de recuperação ambiental tem sido eficaz para devolver vida à região longe dos poluentes que um dia marcaram a história da indústria do carvão no Estado.
Marlon Hoelzel, geólogo do CPRM (Serviço Geológico do Brasil), conta que a área foi degrada pela mineração do carvão a céu aberto anos 1980.
“Em 2015 começou a obra de recuperação, concluída em 2019. Eram pilhas de estéreo de cobertura com um pouco de rejeito de carvão e muita contaminação por drenagem ácida de mina. Essas pilhas foram aplainadas e, em cima disso, uma camada de argila foi colocada para reconstruir o solo e colocar essa vegetação em estágio de monitoramento”, explica Marlon.
A recuperação de áreas degradadas pela mineração teve início a partir de uma ação civil pública ainda nos anos 1990. De lá para cá, o que se vê é um esforço coletivo em melhorar estes espaços, que vai muito além da determinação judicial, pois muitas áreas foram recuperadas sem sequer terem sido citadas pela ação.
Empresas compromissadas com as questões socioambientais e com a qualidade de vida da sociedade em que estão inseridas modificaram espaços degradados voluntariamente. Hoje, um grande grupo participa dos processos de recuperação.
“Há muita pesquisa envolvida, muita tecnologia, análises laboratoriais permanentes, um acompanhamento frequente de cada etapa e um monitoramento ambiental que se estende por anos e vai muito além das demandas legais”, diz o engenheiro agrônomo Daniel Pazini Pezente.
Ele conta que o objetivo em todas as áreas é trazer novas condições de solo, água, fauna e flora para que fiquem o mais próximo possível do que era antes da mineração.
“O sistema natural não é simples, então, as recuperações ambientais também não são simples. Normalmente leva um tempo pra acontecer. Por isso, precisa primeiro cessar o material contaminante existente na área para começar a reconstrução do ambiente”, explica Daniel.
Mais de 3 mil hectares já foram recuperados nos últimos anos. Uma área equivalente a metade do município de Itapema, por exemplo. Mas o trabalho não terminou. Outros 3 mil hectares serão resgatados para a sociedade e para a natureza nos próximos 20 anos.
Há muitas áreas já 100% recuperadas e que, inclusive, muita gente nem imagina que um dia foram depósitos de rejeito de carvão. O Parque das Nações, em Criciúma, teve seus dez hectares recuperados, revitalizados e, em 2011, devolvidos para a comunidade.
O local tem sido um dos mais utilizados pelos moradores para a prática de esportes e lazer. É, também, um importante espaço para realização de eventos e atividades sociais.
Márcio Zanuz, diretor técnico do SIECESC (Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina), ressalta que algumas áreas eram consideradas problemas para os municípios e mudaram de configuração após a recuperação.
“Áreas que eram problema até para o planejamento urbano da cidade viraram parques que são ocupados pela população como áreas de esporte e lazer”, lembra Zanuz.
O Parque Ambiental Encantos do Sul, em Capivari de Baixo, é outro exemplo de área recuperada. A iniciativa partiu da própria empresa que administra o Complexo Jorge Lacerda. Vendo a importância do espaço e o potencial de ocupação do local, os 35 hectares viraram reduto de espécies de fauna e flora, além de um espaço referência para mais de 350 mil habitantes do sul de Santa Catarina.
O que se prevê é que serão necessários mais uns 20 anos para ampliar a recuperação das áreas degradadas no passado. Mas, quem acompanha o trabalho desde o início já percebe e comemora os resultados obtidos até agora.
Roberto Romano Neto, geólogo e coordenador do grupo de indicadores ambientais da Ação Civil Pública nº 93.8000533-4, conhecida como ACP do Carvão, tem boas expectativas.
“A gente espera que esse processo todo de recuperação seja bem sucedido e traga para sociedade o que ela espera da ocupação dos seus espaços e do bom uso dos recursos hídricos e do solo”, afirma Roberto.
O trabalho deve trazer, ainda, muitos benefícios para a sociedade, que poderá usufruir publicamente dessas áreas que vem sendo transformadas. E nessa união de esforços o passado vai ficando cada vez mais distante.
As modificações nas leis, cada vez mais modernas, e as fiscalizações fazem da exploração mineral uma atividade que em nada se identifica com aquela de décadas atrás, e garante um futuro diferente para a bacia carbonífera da região Sul. Um futuro muito mais verde.
“As áreas de passivos ambientais que ocorreram há 30, 40 anos tem um prazo para serem recuperadas e as minas em operação tem um controle rigoroso. Por isso, o futuro deve ser de um ambiente muito menos poluído em toda bacia carbonífera do Estado”, conclui Daniel.
Texto: ND Mais